Os velhos são os que mais sofrem com o isolamento, os mais castigados por permanecerem confinados em seus lares. Antes encontravam o respeito e o reconhecimento fora que não recebiam dentro de sua família. Precisavam bater perna, frequentar o comércio, interagir com os seus amigos para diminuir a solidão da confissão. Os velhos gostam da rua porque ninguém os escuta dentro de casa, ninguém os leva a sério, ninguém dá atenção. Só enfrentam a contrariedade da pressa na sala, a falta de apetite para as suas histórias na cozinha, a ausência de espaço para os seus comentários saudosos. Eles buscam com atendente da farmácia, com o funcionário do banco, com o caixa do supermercado a conversa que não pode ter com o seu filho. Preferem trocar palavras com estranhos para compensar a impaciência dos parentes. Pois os velhos não ficam surdos com o tempo, mas são sumariamente esquecidos na hora das decisões. Talvez surdos sejam aqueles que fecham o coração e não se aproximam para ouvi-los, perto, bem perto, com os olhos. Na quarentena, já que os velhos não podem passear, que você seja a rua da memória deles, a alegria do convívio deles, o balcão de importância deles, a porta aberta da empatia deles. Que tenham na família a cidade de volta.
