Vida e Saúde: Baixa estatura…saiba quando é um problema

Érika Figueiredo Dias reforça que a maioria dos casos de avaliação de baixa estatura tem como causa os fatores genético e familiar. Ou seja, não necessita de tratamento com hormônio de crescimento. No entanto, Rafael Mantovani alerta para o fato de que pais e mães baixos, por acreditarem que os filhos serão pequenos, não se atentam muito para os sinais de crescimento fora do padrão normal. “É preciso identificar cada situação. Quem sabe os pais também não tinham problema de crescimento não diagnosticado?”, pondera.

A endocrinologista lembra que para que o crescimento ocorra no seu potencial é necessário que vários fatores estejam interagindo de forma adequada. “Fatores genéticos, estado nutricional, sono adequado, atividade física e a capacidade das cartilagens de crescimento responderem aos estímulos de crescimento. Assim, os hormônios são importantes, mas a interação entre esses fatores é determinante no potencial estatural”, explica.

Segundo ela, não basta simplesmente dar hormônio de crescimento para a criança crescer: “Deve haver uma indicação formal para que o hormônio seja utilizado. Ou seja, déficit comprovado do hormônio, insuficiência renal crônica, baixa estatura por haploinsuficiência do gene SHOX, Síndrome de Turner, Síndrome de Prader-Willi, crianças nascidas pequenas para a idade gestacional que não recuperaram o crescimento até dois anos de idade. Quando bem indicado e utilizado o hormônio de crescimento tem alta eficácia terapêutica”, completa.

O tratamento não garante que o alvo calculado será atingido com a medicação. “Oferecer falsas expectativas sobre o crescimento de uma criança pode ser perigoso. Faz-se necessário valorizar o indivíduo como ele é, independente do tamanho”, reforça Érika.

Para a psicanalista e psicopedagoga Cristina Silveira, a expectativa dos pais deve respeitar e obedecer as limitações do tratamento para que a criança não seja motivada a construir conceitos e esperanças infundadas. “A família tem um papel fundamental de suporte e apoio”, reforça.

Segundo ela, crianças e adolescentes que passam pelo tratamento podem, em alguns casos, precisar de acompanhamento terapêutico. Cristina Silveira chama atenção para alguns sintomas como isolamento social, tristeza, sentimentos de incapacidade, insegurança, agressividade, choro, notas baixas e dificuldades na escola. “Durante o processo de tratamento hormonal o acompanhamento pode ajudar no desenvolvimento emocional e na consciência do próprio corpo, uma vez que o tratamento acelera o crescimento e antecipa a puberdade. Ou seja, o crescimento de pelos e outras mudanças corporais podem acontecer e o emocional da criança ou do adolescente podem não estar acompanhando o processo de crescimento”, salienta.

Rafael Mantovani acredita que os mecanismos de comparação de altura devem sempre levar em conta não o ambiente em que a criança está inserida, mas a característica da população: “1,70 m no Brasil não é baixo, mas na Dinamarca sim. Em termos de saúde é preciso estabelecer esse parâmetro”.

Segundo ele, uma criança pode ser baixa, mas apresentar um crescimento normal. “Esse não é um dilema só das crianças brasileiras, mas em todo mundo. É ético tratar com hormônio de crescimento quem se sente baixo por conta de bullying? É trabalhoso, mas existem outras formas de tratar essa questão psicológica”, observa.

Efeitos colaterais

Érika Figueiredo Gomes diz que o hormônio do crescimento é seguro e bem tolerado quando usado adequadamente e sob orientação médica. “Podem ocorrer reações no local da aplicação (já que o medicamento é injetável), mas sintomas que exigem avaliação médica são dor de cabeça intensa, náuseas, alterações visuais, agitação, alteração na forma de caminhar, resistência à ação da insulina com possibilidade de desencadear diabetes tipo 2 e alterações na curvatura da coluna e no fêmur”, exemplifica.

A aplicação do hormônio é rápida e de fácil aprendizado. “A técnica é simples e praticamente indolor com os mecanismos atuais. As seringas são finas e encapadas com silicone, o que não dificulta a adesão ao tratamento”, afirma Mantovani.

Riscos

Para Rafael Mantovani, o temor no uso do hormônio do crescimento é baseado muito mais no que poderia acontecer e não no que acontece realmente. Sobre a associação com o risco de câncer, ele afirma que estudos mostram que pacientes que usaram o hormônio do crescimento por muitos anos em comparação com a população que não usou, a incidência de tumores é igual.

Érika Figueiredo Gomes diz que o uso do hormônio nas doses preconizadas, especialmente nas crianças que não tem história de nenhuma neoplasia prévia, tem se mostrado seguro. “Já nas crianças que já tiveram neoplasias, alguns trabalhos sugerem uma maior incidência de novos tumores. Precisamos de mais estudos para que seja definido se realmente há um risco maior no desenvolvimento de câncer em quem usa o hormônio do crescimento”, fala.

O uso do hormônio de crescimento é associado também ao aumento da incidência de acidente vascular hemorrágico em adultos que foram tratados com essa medicação na infância. “Esse é um assunto ainda controverso e novos estudos deverão ser feitos para esclarecer melhor esse risco”, diz a endocrinologista.

Por outro lado, pacientes que usam o hormônio do crescimento têm uma redução da massa gorda, uma melhor distribuição da gordura, além do aumento da massa magra.

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