Trânsito matou quase 5 pessoas a cada 24 horas nos primeiros meses do ano

O sinal de alerta dispara para a urgência de ações voltadas para a educação no trânsito em Minas, em um contexto de milhares de acidentes com vítimas, que evidenciam uma permanente epidemia de violência em ruas e estradas no estado. Com média de praticamente cinco mortes por dia em decorrência de acidentes nos primeiros meses do ano, esse desafio, imposto a autoridades e sociedade, entra em evidência durante o chamado Maio Amarelo, mês voltado para a conscientização da população em relação ao comportamento a bordo de carros, motos, ônibus ou caminhões. Os diversos órgãos que computam dados de acidentes registraram 17.528 desastres com vítimas e 445 mortos em Minas entre janeiro e março, segundo estatísticas centralizadas pelo Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG). Isso representa 194 ocorrências ao dia, que tiraram, em média, 4,9 vidas a cada 24 horas. A média das colisões com algum tipo de vítima é de oito casos por hora ou um a cada 7,5 minutos, o que para especialistas mostra o tamanho do desafio e a necessidade urgente de transformar ações educativas em uma política sólida que dure o ano inteiro, e não fique restrita a apenas um período.

Impactos na vida e na rede de saúde

Quando um acidente produz lesões em uma vítima, quanto maior a velocidade praticada pelos veículos envolvidos na ocorrência, maior é também a gravidade dos ferimentos, segundo o diretor assistencial da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), Marcelo Lopes Ribeiro. O médico destaca que muitas são lesões irreversíveis. “Uma coisa que assusta a gente é a quantidade de pessoas ficando paraplégicas e tetraplégicas vítimas de quedas de moto”, diz ele, sobre os atendimentos de urgência feitos no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.

De acordo com a Fhemig, em 2017 foram 5.427 acidentados de moto atendidos na unidade, contra 4.133 em 2018 e 1.549 de janeiro a 28 de abril deste ano. Apesar da redução, Ribeiro destaca que também tem percebido reincidência de acidentes, o que mostra que não está havendo conscientização, mesmo com ocorrências graves. Tudo isso traz impacto não apenas paras as vidas das vítimas, mas também para a questão financeira do estado, que gasta muito para garantir os atendimentos. Segundo o médico, há o caso de um paciente acidentado de moto que está internado há nove meses na rede hospitalar, gerando um custo que sozinho supera os R$ 900 mil. Se investidos na prevenção, esses recursos poderiam evitar mais mortes e lesões graves.

“Infelizmente, sabemos que estão se estreitando cada vez mais os recursos financeiros. E a gente tem que dar um jeito de otimizar custos. O principal para nós é a saúde: não importa quanto vai custar, eu tenho que salvar a vida do paciente. Porém, às vezes são situações completamente evitáveis. Precisamos conscientizar todo mundo de que é preciso reduzir as despesas, senão chegará o momento em que não vamos ter como atender”, afirma Ribeiro.

O lançamento da campanha do Maio Amarelo contou com a presença de diversas autoridades, incluindo o secretário de estado de Segurança Pública, general Mario Lucio Alves de Araujo. Ele destacou que o governo deve investir nas ações de educação do trânsito, mas chamou a sociedade a participar ativamente dessas ações. “A participação da sociedade é muito bem-vinda. Só assim vamos construir segurança pública, que é responsabilidade do Estado, mas um dever de todos”, resumiu.

Ontem foi montada uma blitz educativa em frente ao Detran, assim como uma apresentação de teatro desenvolvido pela Gerência de Educação para Mobilidade da BHTrans, com o objetivo de alertar motoristas e pedestres sobre atitudes seguras no trânsito. Em todo o estado estão programadas ações educativas durante o mês, com a proposta de despertar na sociedade a consciência para a questão da segurança viária.

A origem da campanha

Em maio de 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década de Ação para Segurança no Trânsito, com base em um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que contabilizou, em 2009, cerca de 1,3 milhão de mortes por acidente em 178 países. Por isso, o mês de maio se tornou referência mundial para as ações que visam reduzir o número de vítimas em ruas e estradas. A cor simboliza sinal de atenção e de advertência no tráfego. O objetivo chamar a atenção de motoristas, passageiros, pedestres e ciclistas sobre os impactos sociais, emocionais e econômicos dos desastres, para conseguir mudar atitudes. No Brasil, o Movimento ganhou forma a partir de 2014 e conta com a participação de órgãos públicos, empresas privadas e membros da sociedade civil do país que, segundo a OMS, é o quarto em número de mortes por acidente de trânsito no mundo.

Extraído do Jornal Estado de Minas

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