Livro Vermelho da Fauna 2018 registra 1.173 espécies sob risco

Detentor do maior sistema fluvial do mundo e da mais expressiva variedade de anfíbios e primatas, o Brasil contabiliza atualmente 1.173 espécies da fauna com sua perpetuidade sob risco. Outras 318, embora não estejam prestes a desaparecer, também têm a existência ameaçada.

A informação está no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção 2018, resultado de um estudo que contou com a participação de 1.270 pesquisadores e que foi divulgado na sexta-feira (25) pelo Instituto de Conservação da Biodiversidade Chico Mendes (ICMBio).

Diferindo do mais antigo levantamento nacional já registrado, realizado em 1968 pelo então órgão ambiental competente, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), o livro aborda, de forma inédita, o risco de extinção da vida animal no Brasil, uma vez que abrange todos os vertebrados que existem no país. Se considerada somente essa parcela, o total de espécies chega a quase 9 mil.

Nova metodologia

O analista ambiental Marcelo Marcelino de Oliveira, que comandou a Direção de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio no momento em que o levantamento era feito, destacou, em entrevista à Agência Brasil, a relevância da obra lançada, argumentando que consiste em um aprofundamento das inventariações que a precederam. “O aumento do número de espécies ameaçadas reflete a envergadura da pesquisa, que foi maior. Em 2014, eram 1.400 espécies, que passaram para um número quase dez vezes maior. Agora são mais de 12 mil”, afirmou.

Na opinião do biólogo, é exatamente a isso que se pode creditar a variação na quantidade de espécies ameaçadas, observada de 2008 para 2018. Ele acrescenta que a mudança no sistema metodológico propiciou maior exatidão nos resultados, que, em alguns casos, significou a remoção de espécies da lista das que devem ser acompanhadas com atenção. “Usamos critérios aplicados em vários países, como perda de qualidade de habitat. Critérios consagrados.”

Uma das supressões ocorreu com uma espécie de guariba. De acordo com Oliveira, o primata havia sido incluído na lista de táxons ameaçados, mas foi retirado dela após reavaliação.

Os pesquisadores, segundo ele, constataram que o animal não ficava mais concentrado em um único só lugar, estando, na verdade, presente também em outros pontos geográficos, o que fazia com que não se encaixasse mais no critério de população reduzida. “Com um novo estudo, descobriu-se que ele também existe no Ceará e no Maranhão, o que mostrou que não estava em uma situação tão crítica”, afirma.

“Há um grande aporte de espécies entrando na lista e um aporte significativo de espécies saindo também”, observou.

Na abertura do livro de 2008, a Fundação Biodiversitas, que ficou responsável pela coordenação do trabalho naquela fase, ressaltou ter utilizado arcabouço científico que desenvolveu em 1997 e que era “geralmente aceito por todos que trabalham sobre esse assunto no Brasil”.

Conservação

No livro, o ICMBio lembra que as unidades de conservação (UC) são o instrumento de proteção do habitat mais utilizado no país, hoje em dia. “Ao final de 2017, o Brasil tinha um total de 1.544.833 quilômetros quadrados de áreas protegidas, ou 2.029 unidades de conservação em todo o país, 325 delas geridas pelo Instituto Chico Mendes. Das espécies ameaçadas de extinção, 732 têm ocorrência registrada em unidades de conservação, das categorias previstas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Incluem, por exemplo, os registros de espécies que ocorrem apenas ocasionalmente nas UC, como por exemplo, espécies marinhas que fazem grandes deslocamentos, como os cetáceos e alguns elasmosbrânquios”, escreve a autarquia em trecho do livro.

“Para 429 táxons não há registro em unidades de conservação, embora 29 deles tenham ocorrência provável. Os peixes continentais são o grupo com o maior número de espécies sem registro em UC e também o grupo com o maior número de espécies que sabidamente não ocorrem em UC”, completou.

O ICMBio lembra ainda que, apesar do papel que vêm desempenhando as unidades de conservação, a preservação da biodiversidade não pode delas depender, sendo necessário desenvolver “uma matriz de conservação”. O instituto aponta as atividades feitas no âmbito dos planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN) e os planos de Redução de Impactos à Biodiversidade causados por Atividades Antrópicas (PRIM), que ainda estariam sendo devidamente estruturados.

Conforme a publicação, foram implementados, até o momento, 60 PANs, em conjunto com o Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, tendo beneficiado 700 espécies ameaçadas, das quais 526 são espécies de vertebrados, 87 de invertebrados e 91 da flora.

 

O impacto das ações de proteção foi, segundo Oliveira, algo que se confirmou com a baleia jubarte, conhecida por sobrenadar o perímetro do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no litoral da Bahia. “Esse é o melhor exemplo. Vários esforços de conservação de 20, 30 anos melhoraram sua avaliação [quanto ao risco de extinção].”

Informações Agência Brasil

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