Morre Marcelo Yuka, fundador do Rappa, aos 53 anos

Marcelo Yuka, que morreu às 23h40 da sexta-feira, aos 53 anos, no Rio de Janeiro, foi uma das vozes mais potentes do pop rock brasileiro. “A minha alma/ tá armada/ E apontada/ para a cara do sossego/ Pois paz sem voz/ Paz sem voz/ Não é paz, é medo”, diz a letra do hit Minha alma, composto por ele e lançado no disco Lado B Lado A (1999), da banda O Rappa, grupo que integrou de 1993 a 2001.

O cantor, compositor e escritor estava internado desde dezembro no Hospital Quinta D’Or, na capital fluminense, para tratar de uma infecção. Com a saúde debilitada – sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em agosto de 2018 –, Yuka acumulava vários problemas desde 2000, quando ficou paraplégico depois de levar nove tiros ao tentar impedir um assalto no Rio de Janeiro.

Principal letrista do Rappa – compôs Me deixa e O que sobrou do céu, entre outros hits do pop nacional da década de 1990 – , ele rompeu com o grupo um ano depois da tragédia. Motivo: desavenças a respeito de direitos autorais, pois reivindicava, como autor, 50% dessa arrecadação. “Fui demitido da banda que criei”, declarou. “Os caras foram gananciosos e me tiraram. Em nenhuma outra empresa eu poderia ser mandado embora naquela situação”, desabafou, em entrevista. A separação abalou o universo pop, mas as desavenças eram antigas.

Yuka jamais aceitou o papel de vítima. Muito menos de herói por tentar proteger uma moça no tiroteio que mudou sua vida. Enfrentou longa jornada: dores lancinantes, depressão, a vontade de se matar. Lutador, criou uma organização não governamental em favor das pesquisas com células-tronco. Apoiou a Brigada Organizada de Cultura Ativista, voltada para a comunidade carcerária. “Levo livros e sessões de cinema quinzenais aos detentos de Nova Iguaçu, com debates e apresentações musicais. Optei por esse trabalho porque são pessoas esquecidas. Nas instituições penais para onde os presos vão depois de julgados, há trabalhos de ONGs, da Igreja. Mas para quem espera julgamento não há nada. A sociedade confunde justiça com vingança. Não quero fazer parte desse cordão”, declarou à revista Época.

Depois de romper com O Rappa, Marcelo Yuka lançou dois discos – Sangueaudiência, com sua banda F.U.R.T.O (2005), e o solo Canções para depois do ódio (2017), com participações especiais de Céu, Seu Jorge, Marisa Monte e Laudir Oliveira. Publicou dois livros: a biografia Não se preocupe comigo (2014), em parceria com o jornalista Bruno Levinson, e o volume de poesia Astronautas daqui (2012).

A vida e as ideias de Yuka foram tema do documentário O caminho das setas (2011), dirigido por Daniela Broitman. Homem de esquerda, ele se candidatou a vice-prefeito do Rio de Janeiro pelo PSOL, em 2012, na chapa de Marcelo Freixo. Ficou feliz com o resultado – 28,15% dos votos, contra 64,6% de Eduardo Paes –, mas avisou que não prosseguiria na política. Preferia atuar em organizações sociais.

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