Alimentos como feijão e pão preto evitam menopausa antes dos 45 anos

Última etapa do ciclo reprodutivo, a menopausa é esperada por volta dos 52 anos, embora possa acontecer, naturalmente, um pouco antes. Contudo, quando o fim do período fértil anuncia-se entre os 40 e os 45 anos, considera-se que a mulher entrou precocemente nessa fase. As causas são desconhecidas, mas sugere-se que fatores ambientais, de estilo de vida e genéticos (esses, menos frequentes) estejam por trás de um problema que afeta de 5% a 10% do mundo ocidental.

Agora, uma pesquisa da Universidade de Massachusetts em Amherst e da Faculdade de Saúde Pública Harvard T.H.Chan, ambas nos EUA, encontrou uma associação entre o consumo de proteínas vegetais e o prolongamento da função reprodutiva. No estudo, publicado no American Journal of Epidemiology e realizado com 85.682 norte-americanas, as cientistas Maegan Boutot e Elizabeth Bertone-Johnson constataram que mulheres que ingeriam de três a quatro porções diárias de fontes proteicas vegetais, como pão integral e feijões, tinham 16% menos risco de entrar na menopausa antes dos 45 anos.

Boutot e Bertone-Johnson explicam que a literatura científica evidencia que um consumo elevado de proteína vegetal, em animais, está relacionado ao retardo da menopausa. Em uma dessas pesquisas, 61 fêmeas de macacos receberam uma dieta rica em proteína animal (caseína e albumina) ou vegetal (soja com isoflavonas). Depois de 32 meses de tratamento, os ovários daquelas que consumiram a soja tinham significativamente mais folículos que os das demais.

Investigações prévias com humanos também sugerem essa associação. Citado pelas autoras no artigo, um estudo conduzido com 1.130 japonesas de 35 a 54 anos indicou que a ingestão de vegetais verdes e amarelos estava inversamente associada à incidência da menopausa ao longo de seis anos de acompanhamento. Essa foi a mesma constatação de uma pesquisa alemã realizada com 5,5 mil mulheres, à qual as autoras também fazem referência. Por fim, elas mencionam um estudo sobre composição dietética e infertilidade realizado nos Estados Unidos com mais de 1 mil participantes. O resultado foi que aquelas com consumo excessivo de proteína animal tinham mais risco de se tornaram inférteis antes do tempo, enquanto que a substituição de 5% desse nutriente pelo de origem vegetal reduzia a chance em 50%.

Agora, as pesquisadoras usaram informações do Estudo de Saúde de Enfermeiras — um grande banco de dados norte-americano sobre diversos aspectos da saúde de trabalhadoras da área que tem servido de base para pesquisas epidemiológicas — para confirmar essa associação. As mais de 85 mil mulheres foram acompanhadas ao longo de 11 anos, com questionários frequentes nos quais deviam informar hábitos alimentares e se já haviam entrado na menopausa. Depois de ajustar os fatores de risco, como tabagismo, sedentarismo e índice de massa corporal, as cientistas descobriram que as que consumiam 6,5% das calorias diárias de proteína vegetal tinham 16% menos risco de entrar precocemente na menopausa do que aquelas cuja ingestão desse nutriente chegava no máximo a 3,9% das calorias.

As investigadoras, em seguida, examinaram quais alimentos ricos em proteína estavam mais associados ao risco reduzido de menopausa precoce. Elas testaram como uma porção diária de carne vermelha, ave, frutos do mar, ovos, soja/tofu, ervilhas, feijões/lentilha, amendoim, nozes, manteiga de amendoim, macarrão, pão preto e cereal matinal poderiam influenciar nessa questão. Os alimentos que aparentemente têm mais potencial protetivo foram os três últimos. Carnes de qualquer tipo não aumentaram o risco, mas também não ofereceram nenhuma proteção contra a menopausa precoce.

Influência dos hábitos

A nutricionista e professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB) Livia Penna destaca a importância do artigo de Maegan Boutot e Elizabeth Bertone-Johnson, principalmente por elas terem acompanhado, por muito tempo, um número expressivo de mulheres. “Trabalhos com animais já tinham feito a associação da proteína vegetal com o tempo de funcionamento dos ovários, mas esse é o primeiro que vejo com humanos”, diz a professora e autora do livro Maturescência, poder e cura da mulher na menopausa. “Esse estudo traz mais luz ao conhecimento sobre o que leva à menopausa precoce, um problema que não tem a ver com hereditariedade nem com a idade em que a mulher menstruou pela primeira vez. É um conhecimento que vou levar para meus cursos, porque pode ajudar muitas mulheres com 40 anos que queriam ter filhos, mas já estão entrando na menopausa”, conta Livia Penna, que ministra, periodicamente, o workshop Menopausa com saúde.

Também nutricionista, Daniel Novais, membro do Conselho Regional de Nutricionistas da 1ª Região (DF), diz que essa é mais uma evidência da associação entre o estilo de vida e a menopausa. Ele lembra que, além do fator protetivo sugerido pelo estudo norte-americano, já se sabe que o que se come influencia nos sintomas que tanto incomodam as mulheres. “O ganho de massa magra é importante para o controle hormonal e o controle dos sintomas da menopausa. Para ter massa magra é preciso fazer exercícios e consumir proteínas”, diz. Para Novais, as de origem animal são tão válidas quanto as vegetais. “É importante lembrar que a gordura visceral, essa que se concentra no abdômen, precisa ser reduzida porque ela baixa a produção dos hormônios femininos”, ensina.

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