Vida e Saúde: Depressão na velhice não é normal

Encarar o processo de envelhecimento pode não ser fácil. Se levarmos em conta aspectos culturais do país e preconceitos arraigados na compreensão da população, pode ser ainda mais difícil. Sinais de problemas de saúde física ou mental que, na população mais jovem, ligariam um sinal de alerta e buscariam por tratamento não têm a devida atenção quando surgem nos mais velhos.

Nesse cenário, a depressão, doença psiquiátrica que atinge 10,4% da população brasileira, de acordo com dados de 2013 da Organização Mundial da Saúde (OMS), aparece, perigosamente, como algo ‘natural’ quando aflige a parcela mais velha da sociedade. “Depressão no idoso é muito comum, mas não é diferente do que na população de outras faixas etárias. Não é decorrente do processo de envelhecimento e esse é um grande problema quando abordamos o tema. Todos costumam ter essa percepção de que, se a pessoa chega a uma idade mais avançada, ela ficar deprimida é normal. Isso não é verdade”, observa Breno Satler, professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Laboratório de Investigações em Neurociência Clínica (Linc).

Características

Tristeza profunda, falta de interesse, incapacidade de sentir prazer, sentimento de culpa e baixa autoestima, distúrbios de sono ou apetite, cansaço e concentração baixa são, segundo a OMS, as principais características dessa doença psiquiátrica. De longa duração ou recorrente, a depressão traz prejuízo ao indivíduo, atrapalhando o trabalho, estudos ou o andamento da vida da pessoa. Semelhantes à expectativa cultural que existe sobre o comportamento dos idosos, vários sintomas do problema são ignorados. Além da evolução do quadro depressivo, aumentam as chances de outras doenças graves. E isso afeta, e muito, a população mais velha.

Os sinais da doença são os mesmos em todas as idades. As mulheres são mais propensas à depressão que os homens, e isso também não se altera na parcela mais velha da população.

Com a característica de se queixar menos da tristeza, é muito importante prestar atenção a outros sinais apresentados pelos idosos, como começar a se queixar mais da rotina, a se afastar de atividades que antes eram prazerosas, reclamar de dores inespecíficas, problemas de sono e de memória. Até o movimento mais lento pode ser um alerta da depressão.

Buscar ajuda

Breno Satler indica que o importante ao identificar um quadro depressivo é procurar um médico. “Um psiquiatra, um geriatra. Porque pode estar relacionado a várias doenças clínicas, como o hipotireoidismo, insuficiência cardíaca, quadros demenciais incipientes. É preciso uma avaliação completa, muito bem feita, por um bom profissional. E, mesmo que o paciente esteja deprimido, ele pode ter outros problemas, que também são importantes, mas que acabam não sendo valorizados, porque, supostamente, se identificou um quadro depressivo”, completa.

Muitas vezes, o tratamento farmacológico nem é necessário. E o fundamental continua ser buscar uma psicoterapia. As duas estratégias, combinadas, podem ser eficazes em casos mais graves. Mas o melhor remédio continua a ser a prevenção e os cuidados com a saúde em geral.

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