O ser mãe…
Embora a forma de vivenciar a maternidade varie de mulher para mulher, do ponto de vista da psicologia, ser mãe é um processo de renovação e amadurecimento gradual que envolve a mudança da identidade da mulher-filha para a mulher-mãe.
Cercada de idealizações em torno dos aspectos positivos, a maternidade em nossa sociedade é vista como “experiência de realização plena da mulher”, “doação”, “abnegação” e “amor incondicional”. Acontecimentos como abandono de bebês, rejeição, violência causam enorme espanto por se apresentarem como opostos aos valores tidos como preponderantes.
O que se percebe ao analisar a maternidade por um ângulo mais amplo, é que o chamado “instinto materno”, que predispõe a mãe a comportamentos de proteção e afeto em relação aos filhos sofre grande influência da cultura, religião, do ambiente familiar e social, do acesso a condições de moradia, alimentação, trabalho, saúde, da condição física e psicológica da mãe, das vivências emocionais da mãe, de sua relação com o pai da criança, do acesso à informação, dentre tantas outras coisas. Dessa forma, não é possível generalizar nem padronizar comportamentos numa sociedade tão dinâmica e tão diversificada como a que vivemos.
Embora seja inegável a importância da relação mãe-filho na organização da experiência psíquica da criança e importância dos primeiros anos de vida para o estabelecimento desse vínculo, o aprendizado progressivo da maternidade , o apoio do pai, avós e outras pessoas significativas podem influenciar positivamente a vida da criança favorecendo a superação de dificuldades emocionais.
Entendida como oportunidade de aprimoramento pessoal, maternidade significa aprendizado contínuo, possibilitado pelo convívio com os filhos, por observações e conversas sobre o comportamento de outras mães, acesso a informações, orientações profissionais, autorreflexões, etc. O desejo de ser “boa mãe” agregado a mudança de comportamentos maternos inadequados, melhoria da expressão de afeto, aprendizado do diálogo, maior proximidade entre mãe e filhos e um remodelamento de relacionamentos que nem sempre começaram de maneira ideal pode ser uma experiência muito gratificante tanto para mães como para filhos.
A opção pessoal de ser ou não mãe e o entendimento de que, ao contrário do que se difundiu durante séculos, a maternidade não é a única fonte de realização da mulher, é importante para a reformulação do conceito de maternidade. Ser mãe não precisa ser “padecer no paraíso” , mas deve ser uma construção gradual de um relacionamento afetivo, em que mãe e filho descubram o prazer e não a obrigação do apoio, do respeito mútuo e da convivência ao longo das várias fases da vida.
Psicóloga Cláudia Leitão